Festival de Jazz do Valado de Frades

Jazz no Valado 2015

Com um orçamento relativamente modesto e uma programação inteiramente nacional, o Jazz no Valado é um festival por que nutro um carinho muito especial. As razões são várias e nem todas musicais, entre a amizade que me liga ao director, Adelino Mota - um empenhado divulgador de Jazz, professor, maestro, director da Big Band da Nazaré, entre outros misteres-, a simpatia da equipe que organiza o festival, e o entusiamo do público que se liga empaticamente aos músicos que passam pela BIR (Biblioteca de Instrução e Recreio do Valado dos Frades). Este entusiamo, alegria e amizade são também algumas das razões porque os músicos nacionais gostam de aí tocar, muitas vezes a troco de remunerações modestas, e a verdade é que pelo Valado tem passado o melhor do Jazz nacional, com frequência até em estreia absoluta.

O Jazz no Valado sofreu ao longo das suas dezoito edições (!) vários formatos, espalhando-se em 2015, seis concertos nas duas segundas semanas de Abril e Maio:

Carlos Martins Quarteto «Absence», dedicado à memória de Bernardo Sassetti que foi por vários anos o pianista do grupo de Carlos Martins, a abrir o festival, a 9 de Abril; Liftoff, um quarteto de vibrafone e piano, a 10; Jogo de Damas, um septeto de vozes mais secção rítmica, fechando os concertos de Abril, sábado 11; Funky Bones Factory, cinco trombones e sousafone mais secção rítmica, a 7 de Maio; um trio clássico de piano, o Paulo Bandeira Trio; e a Big Band do Município da Nazaré a encerrar o festival a 9 de Maio.

Carlos Martins Quarteto Absence
Tinha assistido à curta apresentação do disco de Carlos Martins, Absence, no São Jorge, em Lisboa, e tinha ouvido o disco, mas pareceu-me que numa e outra situação a banda se revelava excessivamente contida e tornava-se necessário ouvi-la mais rodada e em adequadas condições de palco e público, e o convite de Adelino Mota para assistir ao concerto de abertura do 18º Festival de Jazz Valado dos Frades (e a promessa de um jantar bem regado com os amigos) pareceu-me uma boa ideia.
Quarteto de veteranos, o grupo de Carlos Martins, com Mário Delgado na guitarra, Carlos Barretto no contrabaixo e Alexandre Frazão na bateria, fez valer-se da experiência para arrebatar a empolgada assitência. A voluptuosa bateria e a parafernália eléctrica de Mário Delgado em muito contribuiram para a espectularidade do concerto, retirando alguma da melancolia que atravessa o repertório de Absence, com Carlos Barretto superando-se nos graves; mas também Carlos Martins esteve portentoso, expondo-se no dramatismo das canções.
Foi um concerto, intenso, enérgico, extravasante da alegria (pela re-união do grupo) de tocar, do Jazz; o regresso do quarteto de Carlos Martins, e apesar de ensombrado pelo desaparecimento do amigo, um magnífico regresso.